segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amar

________________Carlos Drummond de Andrade


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar? amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal ou precisão de amor ou simples ânsia? (...)

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

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"Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada" - Mário Quintana